21 novembro, 2012

A Consciência Negra




A Consciência Negra
Artigo de Horácio Lopes de Moraes

Feriado em cidades e capitais Brasil afora, o dia 20 de novembro carrega uma gama de valores e significados tão grande que extrapola nossas fronteiras e nos une à história de outros países e regiões do mundo onde foi aplicado o regime de trabalho compulsório aos africanos e seus descendentes. Refletir sobre esse dia é ter consciência de que a diáspora africana teve o caráter de servir o Velho e o Novo Continente com farta mão de obra, como suporte do que viria a se tornar a modernidade ocidental, tal qual a conhecemos.

Trata-se de uma data em que se celebra a vida do líder quilombola Zumbi dos Palmares, personagem marcante na história brasileira pela resistência que impôs ao regime escravocrata, e que foi evocada, no início da década de 70, para contrapor o famoso dia 13 de maio.

Nas palavras do poeta Oliveira Silveira, propositor do Dia 20, “...é um momento que temos para conhecer mais sobre nós mesmos...” já que, de fato, conhecemos muito pouco sobre a história dessa população que ampliou ultramar os limites de África, semeando saberes e riquezas intangíveis a formar culturas singulares, como a brasileira.
Esses 40 anos do Dia 20 de Novembro ressaltam o amadurecimento de uma data símbolo da luta e dos avanços obtidos a partir do seu contexto. Se hoje são ouvidas vozes que clamam por Reparações e são aplicadas Ações Afirmativas é porque uma chama foi acesa ali atrás
Uma intangibilidade notável através da história quando reconhecemos, por exemplo, que o ouro dourado do continente negro, base financeira da 1ª Revolução Industrial, em verdade, foi minorado pelo rendimento de uma outra moeda, conhecida como o “Ouro Negro”, a saber, milhões de africanas e africanos utilizados como ferramenta de produção onde houvesse a necessidade de trabalho. Um regime calcado sobre uma ordem na qual era fundamental a ruptura da qualidade de pessoa do ser africano imiscuindo-o à condição de objeto, explorado a esmo e sem qualquer chance de inserção social. Essa pode ter sido a mais perversa dimensão da prática do racismo, no amplo espectro de injustiças, cujo reflexo nefasto pode ser facilmente percebido. Problemas freqüentes com a negação do sujeito a ponto de boa parte da população negra não se aceitar como tal e, não raro, desprezar o seu igual, inerte a valores e estereótipos impostos.

Por tudo isso, esses 40 anos do Dia 20 de Novembro ressaltam o amadurecimento de uma data símbolo da luta e dos avanços obtidos a partir do seu contexto. Se hoje são ouvidas vozes que clamam por Reparações e são aplicadas Ações Afirmativas é porque uma chama foi acesa ali atrás. Ou melhor, reacendida como um fio da meada que não se cortou, a despeito das estratégias utilizadas para tanto. Uma chama oxigenada, sobretudo, em cima de um sentimento de vida, que nega a morte e a inexistência e se sustenta na busca por uma condição mínima de dignidade, a dignidade do ser humano.

Horácio Lopes de Moraes é técnico bancário  na CEF em Porto Alegre. Também  estudante de Arquitetura e Urbanismo - UFRGS

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