14 abril, 2011

HISTÓRIA DO TERREIRO

Em 1880, nasce no interior do Rio Grande do Sul Dona Julia Lara de Vasconcellos. Mestiça de brancos, negros e índios. Após seu segundo casamento e já com dois filhos, veio para Porto Alegre e se instalou com sua família no Areal da Baronesa por volta de 1930, onde foi iniciada como filha de Iyemonja pelo Babalorisá Alfredo Sarará de Sangó, um grande líder religioso com quem Dona Júlia teve o primeiro contato com a Matriz Africana e pode conhecer, cultuar e preservar sua ancestralidade, da qual falava com orgulho aos netos e bisnetos. Naquele mesmo tempo, Dona Júlia interessou-se pelo culto da Umbanda, que se organizava no Brasil e que valorizava a ancestralidade indígena principalmente, onde Ela incorporava a Cabocla Iara. Na Umbanda se cultuava caboclos, caboclas e pretos velhos. Quando Baba Alfredo Sarará retorna para casa (morre), Dona Júlia passa aos cuidados de Pai Alcebíades de Sangó, com quem conclui seus assentamentos e após alguns anos torna-se Iyalorisa e abre seu terreiro no Areal da Baronesa mesmo. Sua única filha mulher, Maria Erotildes Lara de Vascocellos era de Iansã e cedo, com 14 anos manifestou seu Orisá, porém ela nunca se sentiu atraída pela Umbanda. Uma das características históricas do Rio Grande do Sul, é que os Pobres e negros cada vez são expulsos para mais longe dos grandes centros, e o Areal da Baronesa tornou-se um destes grandes centros sendo atingido pela especulação Imobiliária, este fato, fez com que Iyá Júlia e sua família saíssem de lá e mudasse para o Bairro Gloria, Bairro também conhecido como reduto de famílias negras, mais precisamente na Rua Barão do Amazonas. Sua filha, Maria Eroltildes de Iansã casou-se e teve quatro filhos, que foram criados na companhia da Avó que os incentivava e ensinava a Religião dos Orixás e da Umbanda no convívio do Terreiro, onde as manifestações faziam parte do cotidiano e eram comuns na família.
Em 1942, Vovô Castelhano, como era conhecido o marido de Iyá Júlia, adquire a propriedade na Rua Condor, cujo trecho onde se localiza o Ile, mais tarde passa a ser Rua Nunes Costa na Vila São José no Bairro Partenon, outra Colonia Africana da Cidade e de muitos religiosos do Batuque, característico como zona rural, onde se criavam bovinos, eqüinos e suínos, comercializando leite e derivados. A este endereço, se avizinhava o Babalorisá Jose Airton Vasconcellos, Zé da Saia do Sobo, como era conhecido, filho de santo de Joaõzinho do Bará Esú Biyi da Nação Jeje. Seu José criou proximidade com a Família de Dona Julia e Dona Mana e após a passagem de Baba Alcebíades, ele é escolhido para a ser o Zelador de Orisa de ambas.
O espaço na Rua Condor, foi agregando famílias, netos foram crescendo e casando-se e se aglomerando em seu entorno, configurando-se como quilombo, roça ou terreiro. Começam a nascer os bisnetos ainda sob proteção da matriarca. Em outubro de 1963, Iyá Júlia faz sua passagem, acometida de um infarto, desencadeando um novo ciclo na comunidade religiosa e familiar.
Então, Iyá Mana de Iansã, com seu aô, herda a ancestralidade de Iyá Júlia e assume o Terreiro, porém apenas o culto do Batuque não dando continuidade ao culto da Umbanda. Viúva ainda jovem, Iyá Mana dedicou sua vida aos quatro filhos, todos iniciados e ao seu Papel de Iyalorisa. Era muito respeitada, séria e apaziguadora da família e da comunidade. Iyá Mana tinha muito respeito à ancestralidade, ao Babalorixá e aos filhos e netos carnais. Com o tempo, as filhas foram crescendo, casaram-se e cada uma pegou seu rumo. Em 1974, sua filha mais nova Dona Helena, separa-se do marido e retorna para a Vila São José com nove de seus onze filhos para morar com Dona Mana. Como o Terreiro era pequeno, não cabiam todos, Dona Helena Colocou Dois filhos e uma filha em um colégio interno, e se estabeleceu ali com cinco filhas e com o filho mais moço Diba, que na época tinha 10 anos de idade, este em seguida foi morar com Dona Edilia de Sango que residia em Viamão, sua tia que mais adiante acaba tornando-se sua Iyalorixá.
Em 17 de agosto de 1980, morre Iyá Mana de Iansã e Iansã, deixa sua filha mais velha Dona Edília – Iyá Otília de Sango, como sua guardiã. Iyá Otilha leva Iansão para seu Terreiro na Cidade de Viamão.
Dona Helena de Osun, única filha a não ter sua casa própria fica morando no terreiro com suas filhas. Alguns meses depois em Outubro de 1980 Diba, o filho mais moço então com 16 anos, volta para morar com a mãe. Em Dezembro de 1980 Diba inicia-se nas mãos de Iyá Otília de Sango - Obá Oluajé e seu Ori é de Iyemonja como de sua Bisavó. Em 1982 faz o Borí e em 1983, no dia 16 de julho faz os assentamento de Iyemonjá e demais Orixás. Em 1985 em sonho, Iyemonjá pede a Ele que a traga para o Terreiro, onde ele terá um papel importante na continuidade da comunidade religiosa deixada pela sua Bisa e Sua Avó. Iyá Otília resiste, pois Diba tinha somente 21 anos de idade e 5 anos de iniciado, mas o oráculo confirma e ela acaba cedendo.
Em 04 de dezembro de 1985, Iyemonjá e demais Orumalés de Diba são levados para o Terreiro, momento em que ele assume a continuidade herdada, inicialmente com Batuque. Em 1992, após ser coroado na Umbanda pela Cacique Erondina de Ogum Supremo da Montanha abre os trabalhos e as portas do Terreiro também para Umbanda completando-se o ciclo. A pessoa jurídica Comunidade Terreiro Ilê Asé Iyemonjá Omi Olodô e Centro Espiritualista de Umbanda Cacique Tupinambá liderada pelo Babalorixá Diba de Iyemonjá é constituída em 1997. Hoje a comunidade agrega em torno de 150 omós Orixás e um grande número de simpatizantes. Nestes quase 15 anos, de personalidade jurídica e 25 de atividades religiosas, a Comunidade Terreira se transformou num espaço plural agregando temas pertinentes à Religião de Matriz Africana e seus adeptos tais quais: Teologia de Matriz Africana e Umbanda, através de cursos; desenvolveu e implantou na comunidade o Programa Ori Inú que tem cunho cultural, artístico e social, que engloba a Mostra de Cultura Negra; R’Gongo já na 13º edição, projeto Orukó (nomes africanos nos iniciados), o projeto Ori Inú Erê (com crianças do terreiro), projeto Ilú Bata (preservação de toques sagrados de tambor), o projeto Ajeunbó (segurança alimentar), projeto Ori Inú Omode (juventude de terreiro). Além destes, são protagonistas da RENAFRO SAÚDE RS – Rede Nacional de Religiões Afrobrasileiras e Saúde – Núcleo Rio Grande do Sul, promovendo ações diversas sobre religiões de matriz africana e saúde de níveis municipais, estaduais e nacionais e também a comunidade atua acirradamente contra a Intolerância Religiosa e atuação em prol da comunidade negra e Direitos Humanos, através do Controle Social (participação em conselhos municipais e estaduais); Educação – bolsas e cotas universitárias; direitos civis – atendimento, acompanhamento e denúncias de racismo, intolerância, xenofobia, sexismo, violência e tantos outros direitos dos vivenciadores das religiões de matriz africana e umbanda. Neste contexto, a comunidade se entende como um espaço de acolhida, de igualdade, de saúde integral, de espiritualidade e estruturalmente do bem individual, mas por princípio coletivo, tais quais os princípios da filosofia afro, valores preservados e cultivados pela matriarca Iyá Júlia de Iyemonjá, seguido por Iyá Mana de Iansã e hoje por Baba Diba de Iyemonjá.

2 comentários:

Ronie Anderson Pereira disse...

Parabéns pelo trabalho realizado nas comunidades de terreiro. E pelo exemplo dentro da religião. Pai Ronie de Ogum www.ileorixa.com.br

CLAUDIO RANGEL disse...

PARABENS , EXCELENTE MATERIA, SERVIRÁ COMO BASE PARA MINHA PESQUISA, OBRIBADO.

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