A Comunidade Terreiro Ilê Asé Iyemonja Omi Olodô a ONG Africanamente – Centro de Pesquisa Resgate e preservação de Tradições Afrodescendentes parabenizam a iniciativa da organização Criar Brasil em realizar esta premiação de promoção da Igualdade Racial no Brasil, que muito nos honra, já que, desde a fundação do Terreiro, a luta pelo respeito às diferenças e igualdade de direitos sempre nos mobilizou, haja vista a flagrante situação de desigualdade de discriminações que permeiam nossa sociedade, principalmente para nós negros e vivenciadores das religiões de matriz africana, dificultando o acesso aos direitos básicos reservados à todo cidadão e cidadã.
O Programa Ori Inú surge neste contexto e, por mais que os Terreiros sejam espaço de resistência e preservação de uma visão de mundo e cultura milenar, sentíamos necessidade de dialogar e levar para além do Terreiro esta consciência e formação preparando crianças, jovens e adultos para o enfrentamento desta sociedade racista, branca, homofóbica e intolerante.
Estruturalmente, evocamos os valores civilizatórios de matriz africana em todas as nossas atividades, sejam elas de cunho artístico, político, pedagógico ou cultural, colocando como alternativa para um mundo melhor, com oportunidades iguais para todos e todas.
Os resultados colhidos neste período de ação, percebemos o aumento da consciência racial, a elevação da auto-estima e auto-imagem e o fortalecimento para a luta em busca dos direitos.
É comum no imaginário do Brasil, que o Rio Grande do Sul seja somente de população branca, devido à sua história e à invisibilização da participação do povo negro na construção do estado, ao contrário disto, o Rio Grande do Sul abriga o maior numero de Terreiros do Brasil, em torno de 65.000, e é o estado mais negro do sul do País.
A luta contra o desrespeito às religiões de Matriz Africana à cada dia torna-se mais acirrada. Além de cidadãos e cidadãs que se convertem às Religiões neo pentecostais, pentecostais e católicas, e canais de TV que ocupam concessões publicas para agredir diuturnamente nossa tradição, os terreiros enfrentam uma guerra política. Políticos de outras religiões ocupam espaços expressivos em todas as esferas de governo, num flagrante desrespeito ao estado laico, vão criando leis e firmando pactos, e enquanto isso, terreiros são fechados de norte a sul do País por ação destes governos convertidos e pelo poder judiciário, que deveria garantir a igualdade de direitos entre cidadãos e cidadãs.
Desde o Inicio do mandato o Governo Lula reconhece a Religião de Matriz Africana como uma das grandes religiões do País, quando convida Iya Nitinha de Oxum para o Funeral do Papa. Obviamente o racismo, intolerância e desrespeito não permitiu que a Ialorixa embarcasse no avião presidencial. A criação da SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial foi outra conquista do povo negro, mais um sinal de reconhecimento da existência do racismo pelo governo. E mais recentemente, a partir do caso, Mãe Gilda, do Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum (Itapuã), Que faleceu após ser duramente discriminada pela Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd)quando institui o dia 21 de janeiro como dia Nacional de Combate a intolerância religiosa.Em 2010 mais uma década se inicia e o Presidente Lula a fim de atender o apelo e as reivindicações dos Povos de Terreiros e radicar de vez a intolerância religiosa cria o Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa e Promoção de Políticas Públicas para as Comunidades Tradicionais de Terreiro, cuja assinatura deveria ser em 20 de janeiro de 2010 em alusão ao 21 de janeiro - dia nacional de combate a Intolerância Religiosa, porém não foi assinado, já que é um plano complexo e precisa ser pactuado com outros setores do governo e discutido com as comunidades de terreiro.
O plano, que prevê a legalização fundiária dos imóveis ocupados por terreiros de umbanda e candomblé e até o tombamento de casas de culto. Esperamos que a assinatura a aprovação deste plano, se dê ainda dentro do mandato do Governo Lula, como ação definitiva para a radicação da Intolerância Religiosa que atinge covardemente as religiões de Matriz africana, no Brasil.
Lutamos para preservar a nossa identidade étnica e religiosa no presente e para as futuras gerações herdeiras do legado ancestral de negros e negras escravizados, que resistiram a todas as formas de dominação evocando a força dos ORISAs, NKISIS, VODUNS, CABOCLOS, ENCANTADOS.
Àqueles que foram colocados no nosso caminho pela ancestralidade, amigos e irmãos, pessoas como: Professor e Teólogo de Matriz Africana Jayro Pereira de Jesus e todos os Omorixas e simpatizantes e colaboradores da Comunidade Terreira Ilê Asé Iyemonjá Omi Olodô e In Memorian dos que morreram lutando pela liberdade: Zumbi, Dandara, Mãe Gilda de Ogun, Mãe e professora Zenóbia, Oliveira Silveira, ...Helena do Sul, José Alves Bintencourt (Nego Lua), os quilombolas assassinados Joelma e Valmir (Guinho) do quilombo dos Alpes em Porto Alegre, o sem terra assassinado pela policia militar do RS Elton..., a professora Leonor Bahia e tantos outros que nos precederam.
Lutamos porque acreditamos que um outro mundo é possível com respeito as diferenças e igualdade de direitos.
Ile Axe IYemonja Omi Olodo
Africanamente – Centro de Pesquisa, Resgate e Preservação de Tradições Afrodescendentes
08 março, 2010
PRONUNCIAMENTO DE BABA DIBA DE IYEMONJA EM ALUSÃO AO PREMIO DE IGUALDADE RACIAL


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