Ambos gingam , giram e lascam uma umbigada
A roda está formada. Homens de um lado da roda e mulheres do outro. Depois, o mestre tira versos cantados e o povo repete o refrão, ao ritmo marcado pelos tambores rústicos. Um dos bailantes avança em direção a uma pessoa do lado oposto. Ambos gingam de um lado e do outro, giram e (plaft!) lascam uma umbigada. Mais uma ginga e outra umbigada. Giram de novo e mais um encontro de corpos.
Impressionado com a sensualidade dessa dança, que assistiu em São Luiz do Paraitinga, na década de 30, o pesquisador, poeta e escritor Mário de Andrade a descreve e analisa, num livro, e a chama de “samba rural paulista”.
Quem dança, porém, chama de batuque, tambu, samba de umbigada, caxambu, jongo… em cada região, dá-se um nome diferente à cerimônia – que é mais que dança -, de origem bantu, lá dos antigos reinos de Ndongo e do Kongo, na região de Angola.
Como as demais manifestações oriundas da África, esta também não se presta apenas à diversão, ao lazer. É sensual, sim, mas é sagrada. O jongueiros juram mistérios envolvem o jongo e lhe dão um quê de magia.
E deve dar mesmo, pois o ancestral bantu do jongo, o jinongonongo, é um jogo batucado de perguntas e respostas, com o oráculo esclarecendo as dúvidas dos consulentes, através do canto e da dança, como fazem os búzios, na tradição nagô.
Não. Não é exótico. Não é só folclore. Não é para intelectuais e burgueses assistirem com ar de tédio ou de complacência. É a cultura do nosso povo e nos pertence.
O ENFORCAMENTO DE UM REI
Depois da revolta dos Malês, na Bahia em 1835, os donos de escravos de todo o País temiam a possibilidade de uma rebelião. Por isso, o tratamento aos escravizados tornou-se ainda mais cruel, o que tornava o clima, na região cafeeira e canavieira da Baixada Fluminense e do Vale do Paraíba, propício para uma revolta A gota d’água aconteceu em novembro de 1938, qunado escravo Camilo Sapateiro, foi assassinado pelo capataz de uma das três fazendas do capitão Manuel Francisco Xavier e ficou impune. Liderados pelo ferreiro Manuel Congo, cerca de 300 escravos, homens e mulheres fugiram das fazendas de Xavier. Entre eles estava a Marianna Crioula. Manuel era chamado de “rei” pelos revoltosos e Marianna, “rainha”. Todos se embrenharam na floresta, onde se estava formando o quilombo de Santa Catarina. Sob o comando do oficial Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, a Guarda Nacional perseguiu os revoltosos. Foram presos 16 negros, entre homens e mulheres. Manuel foi condenado à morte por enforcamento. Marianna foi absolvida, mas obrigada a assistir à execução do companheiro. Enforcado em 6 de setembro de 1839, Manuel Congo não foi sepultado, para servir de exemplo aos demais. No local do enforcamento, junto à pedreira de Vassouras, hoje existe um memorial em sua homenagem. Ao lado de Zumbi, Luiza Mahin e outros, Manuel Congo é símbolo da resistência de nossa gente à escravidão.
UM HERÓI, À SOMBRA DO APARTHEID
Eis um herói deve ser compartilhado por todos. Sim, porque não há outra classificação para Hamilton Naki, um dos maiores cirurgiões da África do Sul, que o apartheid se incumbiu de ocultar.
Aos 38 anos, em 1967, Naki fez parte da equipe que realizou, na cidade do Cabo, o primeiro transplante do coração. Mas ele não saiu na foto. Quando, acidentalmente, apareceu numa fotografia, a direção do hospital teria explicado que se tratava de um faxineiro. Não revelaram que foi o Dr. Naki quem retirou do peito de uma mulher morta o primeiro coração a ser transplantado em humanos, que deu tanta fama ao líder da equipe, o famoso cardiologista Christiaan Barnard.
O heroísmo de Hamilton Naki está na obstinação com que perseguiu o sonho de ser médico. Aos 14 anos, teve de abandonar os estudos para trabalhar no chiqueiro e, depois, no jardim da Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Observando os transplantes de órgãos em porcos e cães, durante as pesquisas, passou a auxiliar os pesquisadores e desenvolveu novas técnicas. Assim se tornou cirurgião e foi requisitado por Barnard. Sem direito a diploma de medicina, trabalhava clandestino.
Naki lecionou cirurgia por 40 anos, enquanto vivia num gueto, em um barraco carente de iluminação elétrica e água corrente. Aposentou- se com salário de jardineiro. Com o fim do apartheid, porém, foi condecorado e recebeu título de doctor honoris causa. Conta-se que jamais reclamou das dificuldades. Ao contrário, era grato e se sentia feliz por poder salvar vidas.
Hamilton Naki lecionou cirurgia por 40 anos, enquanto vivia num gueto, em um barraco carente de iluminação elétrica e água corrente. Aposentou-se com salário de jardineiro
Fonte: Raça Brasil
26 fevereiro, 2010


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